30/07/14 | ARTIGO
Por que as crianças estão engordando?
Elisabete Almeida
Crianças mais robustas tradicionalmente representaram para os pais, avós e demais familiares uma clara demonstração de saúde. Talvez, por essa razão, é tão difícil para os pais aceitarem que os filhos estão com excesso de peso ou mesmo obesos. E isso é muito grave.
Não se trata de mera opinião. Estudo publicado no periódico Acta Paediatrica mostra que 75% das mães e 77% dos pais de crianças com sobrepeso disseram que o filho tinha peso normal. Quase metade das crianças obesas foi classificada por seus pais como tendo peso normal ou um pouco alto.
Um estudo brasileiro também mostrou que há dificuldade em enxergar o problema da obesidade infantil. Foram avaliadas 400 crianças e aproximadamente 35% delas apresentavam excesso de peso, mas apenas 20% das mães estavam cientes da questão.
Uma em cada três crianças no Brasil está obesa. A obesidade na infância é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças, como diabetes, pressão alta, colesterol alto, entre outros problemas de saúde. E, uma constatação: uma criança obesa tem 80% de chance de se tornar um adulto obeso.
O aumento da obesidade infantil está intimamente ligado às mudanças da dinâmica familiar, às novas tecnologias e à falta de segurança. Hoje, a maioria dos pais trabalha fora, resultando em menor tempo para cozinhar. Com isso, a praticidade toma conta dos lares, com maior consumo de alimentos ricos em gordura, açúcar e sódio. Por isso, na hora de montar a lancheira, é importante optar por produtos que aliem saúde, praticidade e sabor.
A falta de segurança e a ausência dos pais levam as crianças a ficarem "confinadas" em casas e apartamentos, distraídas pelo computador, videogame, tablets ou celulares. Com isso, os pequenos tendem a praticar menos atividade física. Então, é quase uma questão matemática: alimentos pouco saudáveis somada à falta de atividade física é igual ao aumento do peso!
Mas, apesar das dificuldades, a responsabilidade de educar as crianças no sentido de ter uma vida saudável ainda pertence aos pais.
A escola também pode contribuir por meio de diversas atividades ligadas à educação alimentar, porém são os pais que devem assumir a missão de criar e educar as crianças para que elas se tornem adultos saudáveis.
Excesso de peso não é uma questão estética, é uma questão de saúde. Comer alimentos nutritivos não é papo de nutricionista. É fundamental para o bom desenvolvimento das crianças. Praticar atividade física não é luxo: é necessidade.
O Programa "Meu Pratinho saudável" é uma iniciativa para educar crianças de 6 meses a 10 anos a se alimentar de forma saudável. Tanto em casa, com as refeições principais e café da manhã, quanto na escola, com os lanches, a metodologia do programa ensina o quê e quanto colocar no prato, de forma bastante prática e visual.
Parceria do Instituto da Criança do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com a LatinMed Editora em Saúde, o projeto conta com apoio da Unilever, que incentiva a disseminação de informações de valor sobre alimentação infantil como meio de prevenir a obesidade de crianças no país.
Nem sempre é fácil fazer com que as crianças comam de forma saudável. Mas é preciso perseverar. Um bom início é levá-las para fazer compras na feira ou no sacolão, mostrando cores, sabores e cheiros diferentes de frutas, verduras e legumes. Também é importante fazer as refeições à mesa com toda a família reunida.
Praticar atividades físicas junto com as crianças e estipular horários e prazos para que elas vejam TV, jogarem videogame ou usarem o computador também são estratégias válidas.
E o mais importante: você é o modelo de comportamento para seus filhos. Se você só come pizza, hambúrguer e batata frita, toma dois litros de refrigerante e não sai de frente da televisão, como acha que seu filho vai se motivar a comer mais salada e legumes e jogar bola? Pense nisso.
Elisabete Almeida é médica e coordenadora do programa Meu Pratinho Saudável, da LatinMed com o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP
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